Coronavírus. Esta é a palavra certamente mais pronunciada em todo o mundo nas últimas semanas. A proliferação exponencial do COVID-19, que já está sendo considerada como uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde, está gerando um fenômeno bastante disruptivo em toda a sociedade global. Estamos sendo forçados a ser “glocais”, ou seja, continuamos vivendo em um mundo globalizado, mas para contenção da proliferação do vírus, diversas nações, instituições e empresas estão reduzindo drasticamente o contato presencial de pessoas, incluindo a mobilidade das mesmas. Ou seja, somos globalizados mas precisamos estar “presos” a nossa localidade.
Fato concreto é que não temos conhecimento na história recente da humanidade de um conjunto de medidas tão duro para a contenção da mobilidade e a aglomeração de pessoas. O Governo americano proibiu o trânsito de vôos entre os E.U.A. e toda a Europa. Campeonatos esportivos muito importantes estão sendo suspensos temporariamente (como o Campeonato Italiano de Futebol e a Liga Norte Americana de Basquete, a poderosa NBA). Inúmeros eventos estão sendo cancelados ou adiados e obviamente, atividades do setor público estão sendo suspensas e, de forma não menos preocupante, organizações e empresas estão sendo forçadas a interromper suas atividades temporariamente ou encontrar outras formas de desenvolver o seu trabalho.
Além disso, é fundamental destacar os impactos que esta pandemia já está causando em toda a economia global. Nos últimos dias, houve uma queda generalizada nas principais bolsas de valores de todo o mundo. O câmbio está sofrendo forte impacto e o mercado de ações e fundos de investimento passa por um grande período de instabilidade, gerando perdas significativas no valor de mercado das empresas. E o Produto Interno Bruto (PIB) já passa a ter projeções e menor crescimento e retração em diversas nações globais, dentre elas o Brasil.
A hora da Transformação Digital como meio para que a sociedade continue a funcionar
Por outro lado, há algum tempo (e com alguma intensificação recente), temos falado muito sobre a Transformação Digital, como a “transformação dos negócios, serviços, relacionamentos, organizações e sociedade através dos recursos digitais”. Neste contexto, novos modelos de negócio e novos modos de vida passaram a ser desenvolvidos, como o uso massivo de aplicativos para smartphone, dezenas de negócios exponenciais no setor de transporte, alimentação, hospedagem, prestação de serviços em geral, bem como inúmeras soluções de comunicação digital. Seja para conversas individuais ou em pequenos grupos, como o Whatsapp, seja para o trabalho remoto, como o Google Meet/Hangouts, Microsoft Teams, Zoom, Whereby, dentre muitos outros.
Neste contexto, há muito comentamos que desejamos serviços mais digitais porquê não temos muito tempo a perder em filas demoradas, excesso de burocracia e alto custo com deslocamento, tempo, insumos analógicos, remuneração de profissionais, dentre outros. Desejamos serviços digitais porque estamos em uma era digital e até então, com a possibilidade de consumirmos serviços por meios digitais. Todavia, neste exato momento, devido a pandemia do Coronavírus e todas às medidas de restrição supramencionadas, deixamos de ter a possibilidade de consumir serviços por meios digitais para termos a NECESSIDADE de utilizarmos os meios digitais em uma escala certamente jamais vista na história da humanidade. Caso contrário, não teremos muita escolha, a não ser voltar para um momento da história onde o nosso nível de conectividade era infinitamente menor.
Nesta direção, o mercado já se movimenta muito rapidamente para transferir parte (ou a totalidade) das suas operações para a infraestrutura digital (pelo menos temporariamente). Dois dos maiores players de soluções de videoconferência, o Google Hangouts e o Microsoft Teams liberaram recentemente diversas funcionalidades avançadas (disponíveis apenas nas versões pagas) para às versões gratuitas das respectivas soluções. Somado a demanda natural, o volume de videoconferências no mundo está crescendo exponencialmente, afinal, as pessoas precisam se comunicar e irão utilizar todos os meios que existem para isto.
Complementarmente, teremos aceleração de impactos em todo o mundo laboral. Especialmente no Brasil após a reforma trabalhista (Lei 13.467/2017), muito se discutiu e se iniciaram os primeiros movimentos para a popularização do teletrabalho (conhecido como home office). Neste exato momento, o home office está passando a ser a única alternativa de funcionamento das organizações, sejam do setor público e do setor privado.
Por outro lado, sabemos que nem todas as organizações e empresas estão preparadas ou sabem como mudar radicalmente às suas operações do meio presencial para a era digital. No setor público, o impacto deve ser ainda maior, considerando que a regulamentação do teletrabalho ainda não aconteceu na grande maioria das instituições. Entretanto, com a forte proliferação do vírus, às organizações não terão escolha e terão que migrar suas operações para o meio digital. Todavia, a grande questão que fica no ar é a seguinte: “estas organizações têm capacidades mínimas para funcionar de forma virtual?”
O mundo (digital) pós-Coronavírus
Independente das decisões e ações que forem implementadas durante a pandemia do Coronavírus, a sociedade global em que vivemos irá mudar, afinal, estamos sendo expostos a uma nova experiência “glocal” de vida que trará novos hábitos e comportamentos. De um lado, às capacidades digitais que funcionarem e proverem os serviços e rotinas de forma satisfatória neste momento de pressão certamente serão mais valorizadas e passarão a fazer parte do cotidiano das organizações e sociedade após a pandemia ser controlada.
Por outro lado, organizações e serviços que não possuem tais capacidades digitais podem simplesmente deixarem de existir, por dois motivos: Não terão como funcionar durante o período de pandemia (vide o agravamento das medidas de contenção) e se deixarem de funcionar por um período de tempo, podem ser questionadas se realmente precisam voltar a funcionar quando a tempestade passar.
Como diria meu grande professor Carlos Salles (in memorian), toda ameaça trás uma grande oportunidade. A questão é: “como a Transformação Digital para os negócios, serviços, relacionamentos, organizações e sociedade irão se comportar durante e após o Coronavírus?” Dia após dia, teremos essas respostas. Aliás, precisaremos construir estas respostas.
Até a próxima!!!